segunda-feira, 30 de junho de 2014

Portugal - Primeira Guerra Mundial


“Em paz os filhos enterram seus pais. Em guerra os pais enterram seus filhos” 
Herodotus

Portugal participou no primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que estava de acordo com as orientações da República ainda recentemente instaurada.

 O Partido Democrático, então no poder, movido também pelo facto de já existirem combates entre tropas portuguesas e alemãs junto às fronteiras das colónias em África, desde cedo demonstrou interesse em tornar-se parte beligerante do conflito.

 Em Setembro de 1914 eram enviadas as primeiras tropas para África onde as esperariam uma série de derrotas perante os alemães, na fronteira do sul de Angola com o Sudoeste Africano Alemão e na fronteira norte de Moçambique com a África Oriental Alemã.

Apesar destes combates, a posição oficial do Estado português era claramente ambígua. Os partidos de cariz esquerdista estavam ao lado dos regimes da França e da Inglaterra, enquanto que os da direita simpatizavam-se com os regimes das potências centrais (Alemanha e Austro-Hungria). Porém, a questão que se colocava era se Portugal entraria na guerra ou não, já que a entrada de Portugal na guerra seria sempre ao lado da Inglaterra e França.

 O regime republicano decidiu-se a optar por uma tomada de posição activa na guerra devido a várias razões:
- Com vista à manutenção das colónias, de modo a poder reivindicar a sua soberania na Conferência de Paz que se adivinhava com o final da guerra;
- A necessidade de afirmar o prestígio e a influência diplomática do Estado republicano bem como a sua legitimação no seio das potências europeias, maioritariamente monárquicas;


No entanto, o principal oponente à entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial foi a Inglaterra. Em Fevereiro de 1916, o antigo aliado português decidiu pedir ao Estado português o apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros que estavam ancorados na costa portuguesa. Esta atitude justificou a declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, a 9 de Março de 1916 (apesar dos combates em África desde 1914).
 Em três meses é constituido um exército operacional. Por decreto do 22 de Janeiro de 1917 dois corpos são criados : o Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI), que serve o exército francês, e o Corpo Expedicionario Portugês (CEP) que vai este servir o exército britânico.
tropas portuguesas em Inglaterra
Portugueses na prática de lançar granadas. Escola de treino de infantaria. Marthes, 23 de junho de 1917

Ainda mal habituada ao combate nas trincheiras, a infantaria portuguesa recebe em França  uma formação sobre novas técnicas decorrentes dos três primeiros anos de guerra  (assaltos a partir das trincheiras, captura de prisoneiros, artilharia de trincheiras, gazes de combate...).

Para ver imagens e texto sobre 100 anos da participação portuguesa, ver o artigo do Público aqui

Vídeo: Evocação do Centenário da Grande Guerra 14-18



A  partir de Novembro de 1917 a situação complica-se para os Portugueses. A entrada na guerra dos Estados Unidos reduz os meios logísticos disponíveis.
A situação das tropas portuguesas é ainda pior. No dia 5 de Dezembro de 1917, um movimento revolucionário liderado por Sidonio Pais tomou o poder em Lisboa. Abertamente hostil à guerra, o novo governo anuncia no entanto o seu suporte à Inglaterra. Os abastecimentos enviados às tropas são extremamente raros.
No final de Março de 1918, as tropas portuguesas estão oficialmente ligadas ao comando britânico nas Flandres. A substituição dessas tropas desmoralizadas, abandonadas pelo seu governo está prevista para o dia 9 de Abril de 1918, de manhã ...
Portugueses nas trincheiras perto de Neuve Chapelle, 25 de junho de 1917
Soldados alemães numa trncheira

A trincheira

Uma trincheira típica tinha pouco mais de 2 m de profundidade e cerca de 1,80 m de largura. À frente e atrás, largas fileiras de sacos de areia, com quase 1 m de altura, aumentavam a proteção. Havia ainda um degrau de tiro, 0,5 m acima do chão. Ele era usado por sentinelas de vigia e na hora de atirar contra o inimigo

À chegada ao destino final, os soldados portugueses foram confrontados com uma dura realidade até então desconhecida: a terrível guerra das trincheiras, onde se lutava intensamente por algumas dezenas ou centenas de metros.
A terra de ninguém foi apelidada pelos nossos soldados como a Avenida Afonso Costa, como forma de
exteriorizar o ódio que sentiam pelo governante português que os tinha empurrado para a guerra.

Devido à morfologia do terreno, demasiado pantanoso, para onde foram destacados os soldados lusos, a vida nas trincheiras era simplesmente insuportável, devido à água e lama em abundância, que redundava num ambiente de insalubridade, que por sua vez originava a propagação de toda a espécie de animais
repelentes tais como ratos, piolhos, pulgas ou larvas. No Inverno havia ainda um inimigo suplementar, o frio e a neve, que vinham deteriorar as condições de vida dos pobres soldados, que estavam habituados a temperaturas mais amenas. facto de por vezes as trincheiras dos aliados distarem apenas trinta metros das dos alemães, e dos principais combates terem lugar de noite.

No que concerne à alimentação, os soldados lusos, habituados a uma dieta mediterrânica, viram-se confrontados com o facto de terem de alimentar-se com rações de combate britânicas, e com os indigestos pickles e outras iguarias em conserva, que lhes davam a volta ao estômago e não servia para lhesretemperar

devidamente as forças.


PÃO E ÁGUA

A maior parte da comida era enlatada. A ração diária do Exército inglês só dava direito a um pedaço de pão, alguns biscoitos, 200 g de legumes e 200 g de carne. Para reabastecer o cantil com água, muitos soldados recorriam a poças deixadas pela chuva… Para aliviar o sofrimento, suprimentos diários de rum, vinho ou conhaque eram oferecidos às tropas

ANDANDO NA PRANCHA

Boa parte das trincheiras foram feitas em regiões abaixo do nível do mar, onde qualquer buraco fazia jorrar água. A chuva constante piorava a situação, criando uma camada de água enlameada no chão das trincheiras. Para evitar esse barro todo, pranchas de madeira eram colocadas a alguns centímetros do solo
Nos períodos de calmaria, cada soldado ficava oito dias em trincheiras da linha de frente. Depois, passava quatro dias nas trincheiras da retaguarda, mais tranqüilas. Aí finalmente vinham quatro dias de folga, gozados em acampamentos militares a quilômetros do campo de batalha – muitas vezes com bordéis cheios de prostitutas na vizinhança

SEMPRE SACO CHEIO
Proteção barata e eficiente, os sacos de areia eram capazes de barrar os tiros inimigos. As balas dos fuzis da época só penetravam cerca de 40 cm neles. Eram tão úteis que cada soldado sempre carregava dois sacos vazios, que podia encher rapidamente para se proteger

VIDA INSANA
O terror da guerra e a quase insuportável vida nas trincheiras enlouquecia muitos soldados. Alguns feriam a si próprios para serem mandados de volta pra casa – fraude que, se descoberta, podia ser punida com fuzilamento! Os mais desesperados saíam da trincheirapara ser mortos pelo inimigo

ATAQUE DOS RATOS
Corpos em decomposição, enterrados em covas rasas perto das trincheiras, atraíam ratos, que proliferavam sem controle.Além de transmitir doenças, eles chegavam a roubar comida do bolso dos soldados e a roer o corpo dos feridos! Na total falta de higiene, piolhos disseminavam a febre das trincheiras, doença contraída por mais de 10% dos soldados

SILÊNCIO PERIGOSO
Na maior parte do tempo não havia ofensivas contra as trincheiras. Era uma guerra de espera, mas ainda assim muito perigosa. Atiradores passavam o dia de olho no vacilo de algum soldado que erguesse a cabeça pra fora do buraco. Especialistas em mineração tentavam fazer túneis até a linha inimiga para explodir as trincheiras por baixo!

Durante as ofensivas, os soldados eram instruídos a não parar para atender colegas atingidos. Cada um levava um kit de  emergência e deveria cuidar de si até a chegada dos padioleiros, que retiravam os feridos em macas. Por causa do fogocruzado e da lama que atrapalhava o deslocamento, era um trabalho superarriscado

TÁTICA VENENOSA
Na Primeira Guerra, mais de 91 mil soldados foram mortos por gases venenosos e outras armas químicas. Esses produtos podiam ser lançados por projéteis da artilharia ou por granadas carregadas pelos soldados. Eram usadas substâncias como o gás de cloro, que provocava asfixia nas vítimas

French soldiers in Argonne trenches
Giria dos soldados Portugueses 

Alicate: Soldado de infantaria de Transmissões
Avenida Afonso Costa: Terra de Ninguém
Barris de almude: Projéctil de artilharia grande
Boche: Soldado alemão
Cachapim: Soldados que conseguiram ser transferidos para a retaguarda, ou que tendo ordem de ir para as trincheiras nunca lá chegaram
Cavanço: Fuga para a retaguarda
Comer graxa: levar com estilhaços (termo muito pouco usado)
Copos de meio litro: Projéctil de artilharia pequeno
Cortar prego: Ter medo
Elefante: Abrigo metálico (chapa de ferro ondulado, em forma de arco)
Front: Zona de combate
Front line: linha da frente, também denominada “A Line”
Garrafas de litro: Projéctil de artilharia médio
Lanzudo: Soldado português
Língua do pica-pau: Sinais de Morse
Menino: Projéctil de morteiro ligeiro
Mobília: Equipamento individual do soldado
Museu: Abrigo do comando do Batalhão
Porco: Projéctil de morteiro pesado
Salchichas: Balões de observação (drachens)
SOS: Pedido de artilharia de apoio
Terra de ninguém: Espaço entre as primeiras linhas (no man's land)
Tommies: Soldados ingleses
Trinchas: Soldados portugueses que se encontram na 1ª Linha
Very light:Foguete de luz branca para iluminação nocturna
Zacarias: Sniper inimigo




A Batalha de la Lys



Documentario: http://ensina.rtp.pt/artigo/batalha-de-la-lys-documentario/

 A 2ª divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), constituída por cerca de 20 000 homens, dos quais somente pouco mais de 15 000 estavam nas primeiras linhas, comandados pelo general Gomes da Costa. Esta linha viu-se impotente para sustentar o embate de oito divisões do 6º Exército Alemão, com cerca de 55 000 homens comandados pelo general Ferdinand von Quast (1850-1934).
 Essa ofensiva alemã, montada por Erich Ludendorff, ficou conhecida como ofensiva "Georgette" e visava à tomada de Calais e Boulogne-sur-Mer. As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca de 7500 homens entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, ou seja, mais de um terço dos efectivos, entre os quais 327 oficiais.

Nesta batalha, que marcou negativamente a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, os exércitos alemães provocaram uma estrondosa derrota às tropas portuguesas, constituindo a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.

O resultado da batalha já era esperado por oficiais responsáveis dentro do CEP, Gomes da Costa e Sinel de Cordes, que por diversas vezes tinham comunicado ao governo português o estado calamitoso das tropas.

No entanto, é de realçar o facto de a ofensiva "Georgette" se tratar duma ofensiva já próxima do desespero, planeada pelo Alto Comando da Alemanha Imperial para causar a desorganização em profundidade da frente aliada antes da chegada das tropas norte-americanas, que nessa altura se encontravam prestes a embarcar ou já em trânsito para a Europa.

O objectivo do general Ludendorff no sector português consistia em atacar fortemente nos flancos do CEP, consciente que nesse caso os flancos das linhas portuguesa e britânica vizinha recuariam para o interior das suas zonas defensivas respectivas em vez de manterem uma frente coerente, abrindo assim uma larga passagem por onde a infantaria alemã se pudesse lançar.

Coerente com essa táctica e para assegurar que os flancos do movimento alemão não ficassem desprotegidos, os estrategas alemães decidiram-se a simplesmente arrasar o sector português com a sua esmagadora superioridade em capacidade de fogo artilheiro (uma especialidade alemã), e deslocando para a ofensiva um grande número de efectivos como se explica acima, (nas palavras dos próprios: "Vamos abrir aqui um buraco e depois logo se vê!", o que também indicia o estado de espírito já desesperado do planeamento da ofensiva). Nestas condições, não surpreende a derrocada do CEP, que apesar de tudo resistiu como pôde atrasando o movimento alemão o suficiente para as reservas aliadas serem mobilizadas para tapar a brecha.

Esta resistência é geralmente pouco valorizada em face da derrota, mas caso esta não se tivesse verificado a frente aliada na zona poderia ter sido envolvida por um movimento de cerco em ambos os flancos pelo exército alemão, o que levaria ao seu colapso. Trata-se de uma batalha com muitos mitos em volta a distorcerem a percepção do realmente passado nesse dia 9 de Abril de 1916.

Apesar das acções heroicas de, entre outros, do Soldado Milhões, do comando do Capitão Bento Roma e, certamente, do soldado Manuel da Silva (que os alemães enterraram com uma cruz dizendo “Aqui jaz um valente Português”), as tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, foram inutilizadas e perderam cerca de 7'500 homens entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, ou seja, mais de um terço dos efectivos, entre os quais 327 oficiais. Note-se que as tropas britânicas, durante a operação Michael um mês antes, tinham sido batidos com a mesma velocidade.
Cemitério Português de Neuve-Chapelle

Em França são mantidas 1’831 campas, sendo 239 de soldados desconhecidos. A participação destes homens na Batalha de La Lys, assegurou a participação de Portugal na conferência de Paris com plenos direitos.

Estes homens deram muito mais do que a sua República merecia e, por causa deles, Portugal manteve os seus territórios ultramarinos por mais meio século.






O cristo das trincheiras

No dia 9 de Abril de 1918, sobre aquela planície caiu uma tempestade de fogo de artilharia, durante horas a fio, que a metralhou, a incendiou e a revolveu. Era a ofensiva da Primavera de 1918 do exército alemão. A povoação de Neuve-Chapelle quase desapareceu do mapa, de tão transformada em escombro. A área ficou juncada de cadáveres e entre estes jaziam 7.500 portugueses da 2ª Divisão do CEP mortos ou agonizantes. No final da luta apenas o Cristo se mantinha de pé

Este Cristo ficou no seu cruzeiro durante quarenta anos erguido no mesmo local, até que em 1958 o Governo Português mostrou o desejo possuir aquele Cristo mutilado ao Governo Francês. Tornara-se um símbolo da Fé e do Patriotismo nacional e passou a ser conhecido como o "Cristo das Trincheiras".

Para os portugueses era, e ainda é, o “Cristo das Trincheiras”.
As tropas retiraram ou foram retiradas, mas a imagem manteve-se no seu lugar em permanente vigília, na mesma forma e local em que estivera ma Batalha do Lys, durante mais quarenta anos.
O cristo das trincheiras

Imagem de grande significado quer para os soldados do CEP quer para a generalidade do povo português, que já ouvia da boca dos combatentes o sucedido e, por esses relatos, já conhecia esse Cristo, o que acabou por ser solicitado, pelo governo de então, a sua vinda para Portugal.

A Imagem chegou a Lisboa, por via aérea, em 4 de Abril de 1958, por sinal na Sexta-feira Santa, acompanhada por uma delegação de combatentes portugueses, que tinham fixado residência em França, e por uma delegação de deputados franceses, chefiada pelo Coronel Louis Christians.

Apoteoticamente recebida pela população, foi transportada para a Capela da Escola do Exército (actual Academia Militar) nos Paços da Rainha, onde esteve à veneração até ao dia 8 desse mês de Abril, altura em que foi transportada numa viatura militar para o Mosteiro da Batalha, sem qualquer cerimónia especial. Ao chegar à Batalha, foi conduzida para o refeitório do mosteiro, onde ficou exposta.(imagem á esquerda)


No dia 9 de Abril de 1958, no 40º aniversário da Batalha do Lys, começaram a chegar ao Mosteiro da Batalha, pelas 11 horas, as entidades que estariam presentes na cerimónia, entre as quais o embaixador de Portugal em França e da França em Portugal, os Adidos Militares da França, Bélgica e Estados Unidos, altas patentes militares portuguesas do Exército, Marinha e Força Aérea (criada em 1 de Julho de 1952), autoridades civis, militares e religiosas.

O andor que transportou o “Cristo das Trincheiras” entre o refeitório e a Sala do Capitulo do Mosteiro de Santa Maria da Vitoria, foi levado em ombros pelos representantes da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, sendo a imagem de Cristo colocada à cabeceira da campa rasa, cuja lápide, inicialmente colocada paralelamente à parede lateral e virada para a porta, tinha sido mudada para a posição perpendicular à mesma.

Findas as intervenções militares e religiosas, o representante francês condecorou os Soldados Desconhecidos, colocando, sobre a laje tumular, duas Cruzes de Guerra.



Soldado Milhões

Nesta batalha a 2ª Divisão do CEP foi completamente desbaratada, sacrificando-se nela muitas vidas, entre os mortos, feridos, desaparecidos e capturados como prisioneiros de guerra. No meio do caos, distinguiram-se vários homens, anónimos na sua maior parte. Porém, um nome ficou para a História, deturpado, mas sempre eterno: o soldado Milhões, ver vídeo.
Soldado "Milhões"

De seu verdadeiro nome Aníbal Milhais, natural de Valongo, em Murça, viu-se sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua menina, uma metralhadora Lewis, conhecida entre os combatentes lusos como a Luísa. Munido da coragem que só no campo de batalha é possível, enfrentou sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, o que em último caso permitiu a retirada de vários soldados portugueses e britânicos para as posições defensivas da retaguarda.

Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém ora ocupados pelos alemães, o soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico, para o qual se valeu de coletes de balas que foi encontrando pelo caminho. Quatro dias depois do início da batalha, encontrou um major escocês, salvando-o de morrer afogado num pântano. Foi este médico, para sempre agradecido, que deu conta ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano.

Regressado a um acampamento português, um comandante saudou-o, dizendo o que ficaria para a História de Portugal, "Tu és Milhais, mas vales Milhões!". Foi o único soldado raso português da Primeira Guerra a ser condecorado com o Colar da Ordem da Torre e Espada, a mais alta condecoração existente no país.



Prisioneiros de Guerra Portugueses

CEP mortos: 1992 ; feridos: 5354 ; desaparecidos: 199 ; incapazes 7380 ; prisioneiros: 7000 (233 falecidos no cativeiro, 6767 devolvidos pela Alemanha); Total 21825.
(mais 5 mortos e 5 feridos no CAPI).

(1)História da Primeira República, F. Rosas e M. Rollo, Tinta da China, por Aniceto Afonso, p.297

- Segue uma lista de 1643 portugueses que perderam a vida nos campos de batalha de Flandres durante o primeiro conflito mundial, sepultados no cemitério português de Richebourg, ver aqui.Aqui

No entanto uma grande maioria morreu em África, nas campanhas de Moçambique e de Angola.
Infelizmente, estes cairam no esquecimento, as guerras nas colónias africanas faz parte do processo geral de esquecimento voluntário do nosso passado e, portanto, da nossa identidade, algo que se deveria ensinar nos livros de história.

Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As perdas atingiram quase 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objectivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade.




VOZ DE PORTUGUÊS PRISIONEIRO NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA:
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=740609&tm=4&layout=122&visual=61

Corpo Expedicionário Português - CEP - Desfile da Vitória
Equipamento CEP:
http://www.portugalweb.net/historia/viriatus/WWI_CEP_soldados.asp.htm



O que mudou?
O ano de 1918 não é o ano do final da guerra, mas somente um interregno para a continuação em 1939.

Os súbditos e cidadão europeus obtiveram algumas melhorias sociais em resultado do conflito; as mulheres começaram a ter direito de voto, muitos povos viram reconhecidos os seus direitos à autodeterminação, (ex. Irlanda), na Grã-Bretanha foi constituído o primeiro governo trabalhista e na Rússia é instaurada uma ditadura do proletariado.


Os velhos Impérios Russo e Austro-húngaro acabaram e nasceu uma nova potência mundial os Estados Unidos da América.



Obrigado a todos os portugueses que combateram nesta grande guerra.
Que tombaram em combate e ali gritaram Portugal 




Testemunhos da grande Guerra

JULGARAM-NO MORTO NA GUERRA MAS ELE APARECEU VIVO EM CASA

O avô dava rebuçados e chocolates. Distribuía carinhos e palavras doces mas, tão certo como se chamar Diniz Pinto, 'lá vinham as histórias das trincheiras e das fomes. Acho que foi a forma de ele gerir o stress que a guerra lhe provocou: falar muito, muito, muito disso. Falar constantemente, toda a vida, e cada vez mais à medida que envelhecia. O meu avô costumava dizer que cada dia que passava vivo na guerra era uma vitória, que nunca sabia se chegava ao dia seguinte'.

Não só chegou sempre aos dias seguintes em campo de batalha como completou 97 anos junto dos seus. 'Acho que estes homens tinham tanto stress como todos os nossos militares. Mas eram tempos muito duros, em que a necessidade de arranjar pão para a boca dos filhos se sobrepunha a tudo'. E Maria Hortênsia, neta, filha e esposa de militares trata a Guerra com conhecimento de causa. Ela própria foi educada na Casa dos Filhos dos Soldados e de lá saiu para a Liga dos Combatentes, onde ainda hoje trabalha. 'Estive sempre ligada a este tema, estou muito próxima da guerra embora nunca a tenha vivido. Vivi-a sempre nas palavras deles'.

Por isso, sempre ouvia o avô com atenção, mesmo quando as palavras se repetiam e as histórias faziam eco em outras já contadas. 'Aquilo que o marcou mais na guerra, a julgar pelo que ele mais falava, foram as fomes. A sorte é que o Juca, um conterrâneo, era dispenseiro e, pela porta do cavalo, conseguia dar-lhe qualquer coisinha, às vezes tabaco. Era um anjo que os ajudava. Tanto que, em casa, quando tínhamos fartura, o meu avô dizia sempre: ‘ai na Guerra, se apanhássemos umas casquinhas de batata cozidinhas que manjar que era’.

O historial deles era de muita fome'. E de algumas confusões, numa época em que as notícias chegavam de boca em boca e as tecnologias eram outras. 'O meu avô foi confundido na guerra com outro Diniz. E alguns conterrâneos que foram chegando a Vinhais, em Bragança, foram dizendo à minha avó, que estava grávida nessa altura, que o meu avô tinha morrido, que o sangue dele tinha batido nas botas de um camarada'.
A jovem (que se pensava viúva), 'com 17 ou 18 aninhos', carregou o luto, vestida de preto. Rezaram-se missas, fizeram-se velórios pela alma de Diniz e a gravidez foi carregada de penas. 'Mas afinal foi outro soldado, que tinha o mesmo nome do meu avô, que morreu nas trincheiras'.

A confusão desfez-se quando o verdadeiro Diniz, progenitor de um bebé que até aí todos achavam órfão de pai, apareceu em casa 'qual morto-vivo para surpresa de todos'. A emoção terá sido maior do que as palavras da neta – que apenas ouviu o relato da boca de familiares – conseguem transmitir.
Viriato foi o primeiro dos doze filhos de Diniz Pinto que, regressado da guerra, tratou de aumentar a prole – e dar irmãos ao filho que não viu nascer. Além do trabalho agrícola que naquele tempo garantia o pão para a boca do regimento familiar, foi proprietário de uma padaria onde trabalhou com a mulher. Até aos 91 anos viveu rijo como um soldado. Nos últimos seis de vida traíram-no problemas respiratórios, que o deitaram na cama. Mas um ex-combatente nem à beira da morte desiste de lutar.

PERFIL. Diniz Pinto nasceu em 1892 e morreu em 1988, com 97 anos. Teve doze filhos. É a neta, Maria Hortênsia, que recorda as memórias que ouviu da sua boca.
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A 1ª guerra mundial era essencialmente uma “guerra de trincheiras”.
Estas serpenteavam pelas linhas de combate, e era comum a posse alternada das mesmas, por conquista, entre aliados e alemães.
A trincheira que de momento estava em n/ poder, poderia ter estado na n/ posse dos alemães na semana passada, e vice-versa.
Por vezes a nossa trincheira de linha da frente distava poucos metros da trincheira de linha da frente dos alemães.
Quando os pelotões e companhias estavam desfalcados de ambos os lados, havia um alto-ao-fogo oficioso…
Ninguém queria atirar granadas e ou disparar, porque de facto não tinham meios para levar a cabo um avanço, não queriam levar também com as granadas ou fogo do inimigo, nem tinham a certeza de poder conter um eventual ataque.

Daí, não era benéfico para qualquer das partes despoletar reacções.
Nós chamávamos-lhes “boches” (famosa marca Bosch) e eles chamavam-nos carneiros e/ou ovelhas, dado as várias camadas de lã dos capotes que havíamos levado de Portugal (Covilhã, Seia, Serra da Estrela, etc.), confeccionados por vezes com próprio pelo de ovelha encaracolado, virado para o exterior.
Era perfeitamente possível ouvir os alemães, tal como eles nos ouviam a nós.
Assim, era comum, em pleno teatro de guerra, no silêncio da noite, ouvirem-se portugueses verbalizar para a trincheira do inimigo: - Ó “boche” !!!
A que invariavelmente se seguia uma resposta do outro lado: - Méééééé!!!!!



Bibliografia/ Webgrafia:

NOTA: este trabalho, foi elaborado pelo conhecimento pessoal do autor, auxiliado pela bibliografia que segue, no entanto, esta não obedece ás actuais normas APA, sendo que não poderá ser usado como trabalho académico sério.

Martins, Ferreira (1934a), "Portugal na Grande Guerra", Vol. I, Lisboa, 1ª ed., Empresa Editorial Ática

 Martins, Ferreira (1934b), "Portugal na Grande Guerra", Vol. II, Lisboa, 1ª ed., Empresa Editorial Ática

 Amaral, Ferreira do (1922), "A Mentira da Flandres e o Medo", Lisboa, 4ª ed., Editora J. Rodrigues & C.

- www.operacional.pt
- http://www.momentosdehistoria.com
- fotos: facebook; fotos da grande guerra
- http://www.portugalvistodefora.com
- http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/RaridadesBibliograficas/ImpressoesCEP/ImpressoesCEP_item1/P1.html

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