segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Oscar Wilde: o amor que não ousa dizer o seu nome

Estamos no ano de 1900. Sebastian Melmoth percorre a cidade de Paris em andrajos. Está triste, desolado e sobretudo pobre. As parcas condições financeiras não lhe permitem voltar à sua verdadeira paixão de sempre: a escrita. Viciado em absinto, Sebastian morre subitamente num quarto de hotel barato a 30 de Novembro. Acabava de morrer um dos mais brilhantes escritores de sempre: Oscar Wilde.
«O Progresso é a realização das Utopias» Filho de um médico, Sir William Wilde, e de uma poetisa e jornalista, Jane Francesca Wilde, Oscar Wilde nasce em Dublin, Irlanda, a 16 de Outubro de 1854. Fruto do ambiente intelectual de infância desenvolve cedo o gosto pelo estudo de obras clássicas gregas. Em 1874, Oscar recebe a medalha de Ouro no Colégio de Berkeley pelos seus excelentes resultados na disciplina de Língua Grega. Transfere-se para Oxford, onde a sua escrita poética começa a dar frutos. Ganha o prémio Newdigate pelo seu poema «Ravenna». Depois de concluir o curso em Estudos Clássicos, vai viver para Londres com o seu amigo Frank Miles, um pintor de retratos. Em 1882 parte para os Estados Unidos da América como líder do movimento por ele criado: o Movimento Estético. Este movimento pretendia eleger o Belo como única solução contra o cinzentismo intelectual e social que a sociedade industrial e vitoriana evidenciava. A fama começava a surgir. Depois de uma produtiva viagem intelectual a Paris, Oscar Wilde casa-se com Constanze Lloyd em 1884. O casal muda-se para o bairro de Chelsea em Londres, tendo dois filhos. Oscar Wilde é já um exemplo de elegância e glamour nos seus encontros sociais. É visto como um excêntrico, sedutor, usando roupas sofisticadas e ousadas para a época. É cada vez mais respeitado pelo meio literário inglês. Em 1891 escreve o seu único romance: «O Retrato de Dorian Gray», um dos mais aclamados livros da literatura inglesa. Rico, respeitado e famoso, Wilde vê o mundo à sua volta desabar quando se envolve afectivamente com o jovem Lord Alfred Douglas. Os rumores acerca da sua homossexualidade já circulavam por Londres, mas de modo subtil. O pai de Lord Alfred Douglas, o chamado Marquês de Queensberry, apercebe-se do sucedido e através da sua influência e poder instaura um processo em tribunal a Wilde. Na época Vitoriana, a homossexualidade era violentamente reprimida com pena de prisão.
Oscar Wilde está ciente de que este caso amoroso poderá arruinar-lhe a reputação e a consolidada carreira de escritor e tenta por todos os meios demover o marquês, processando-o por difamação. Sem sucesso. Novas provas são apresentadas, o caso espalha-se na opinião pública e o marquês leva mesmo Oscar Wilde a tribunal. É condenado a 2 anos de prisão com trabalhos forçados por “cometer actos imorais com diversos rapazes”. Durante este período todos os seus bens são vendidos para pagamento de custas judiciais e os seus livros retirados das livrarias. O amor que Oscar sente por Lord Alfred Douglas ajuda-o a suportar a dolorosa estadia na prisão, mas a sua saúde ressente-se e a sua reputação é manchada irremediavelmente. Amargurado contra a injustiça mas servindo-se da paixão como combustível contra a escuridão existencial em que se encontra, Oscar escreve a célebre «Balada do Cárcere de Reading», a comovente «De Profundis», uma carta de amor dirigida a Lord Alfred Douglas e o visionário «A Alma do Homem sob o Socialismo».
estatua de Wild na Praça Merrion, Dublin Com a saúde arruinada pelas degradantes condições da prisão e a alma negra pelo seu amor proibido, Oscar Wilde é libertado a 18 de Maio de 1897. Muda-se para França completamente arruinado financeiramente. O retorno à sua carreira literária é uma miragem. Adopta o pseudónimo Sebastian Melmoth como forma de fugir à conotação negativa que o seu verdadeiro nome tem na sociedade. Vicia-se em absinto e muda constantemente de quarto de hotel, para locais cada vez mais degradantes. A 30 de Novembro de 1900 um ataque de meningite é-lhe mortal. Oscar Wilde morre na pobreza e no esquecimento em Paris. A sua obra genial é doce, visionária e irreverente. Extremamente inteligente e sensível, Wilde legou-nos escritos polvilhados de amor, liberdade e anti-convencionalismos. Tornou-se uma referência literária do século XIX. O Progresso é a realização das Utopias, e Oscar Wilde sabia-o. Ninguém irá preso hoje em dia, numa sociedade civilizada, por amar alguém do mesmo sexo. Ana Filipa Carvalho