terça-feira, 20 de julho de 2010

Há dias assim


Fiz questão como sempre de ir mais cedo, cumprimentei o dono com um bom dia e pouco tempo depois o meu café estava na minha mesa habitual junto á janela. Fiquei cerca de quarenta e cinco minutos a observar as pessoas á minha volta. Logo pela manha aquele café era um encontro de pessoas perdidas e mergulhadas na solidão, conseguia sentir-se o aroma da melancolia a pairar no ar que se confundia com o cheiro do café acabado de sair e os pasteis de chocolate acabados de chegar. A televisão estava sempre ligada mas o volume estava sempre tão baixo que mal se conseguia ouvir o que quer que fosse. Ouvia as moedas que eram batidas contra a madeira gasta do balcão no acto de pagar, ouvia o tiritar das colheres na chávena do café antes de serem levadas á boca, notava os olhares ensopados de sono, cansados e distantes, ouvia pequenas conversas sobre o jogo de futebol do dia anterior entre o dono do bar e o cliente.
Dei um suspiro melancólico, acendi um cigarro e preparei-me para pensar na vida enquanto bebia o café. Dei por mim a relembrar a minha vida desde o momento em que os meus pais me deitaram ao mundo, por descuido do destino ninguém me avisou que isto era assim, se não tinha-me enforcado com o cordão umbilical.
Olhei para o relógio eram horas de ir, deixei o dinheiro junto á chávena, acendi mais um cigarro enrolado em mortalhas de ódio, coloquei a mochila as costas, liguei o mp3 e tentei escolher uma musica que me desse a coragem para mais um dia, fiquei sem bateria perfeito - “one more day mother fucker, one more day” – pelo caminho cruzo-me com algumas pessoas conhecidas, aceno-lhe com a cabeça em sinal de cumprimento, umas respondem outras nem por isso, passo por um jardim onde se encontram idosos madrugadores silenciosos, sinto o olhar deles focado em mim, talvez invejosos pela minha juventude, passo perto de uma praça onde se encontram algumas pombas que me perseguem na esperança de lhes dar de comer, mais a frente recebo uma mensagem no telemóvel, uma sensação estranha, há algum tempo que não recebo mensagens de quem quer que seja – deve ser a operadora avisar-me que tenho de carregar o telemóvel – abro a mensagem: Como consegues ficar tanto tempo á espera de ondas? Tive de sorrir, se soubesses a quantidade de pessoas que fica uma vida á espera… de nada

RikardoRamos
Em ferias

2 comentários:

  1. Nice...
    Só acho estranho que utilizes o mesmo titulo para tanto post.XD
    Beijo.

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  2. Quando voltares tens um desafio no meu blog para ti... :) **

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