quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 O meu amigo morreu! 
Já o imaginava algum tempo. Alguns anos, até.
Ele estava velho, a sua boca cheirava mal, já não tinha os dentes todos, e a mobilidade já não é o que era.
Gostava de testar as regras, de fugir e ir ver as suas terras, que na verdade nunca lhe pertenceram. 
O seu corpo, falava pela sua historia de vida, várias cicatrizes, de uma vida que nem sempre foi fácil.
Em tempos tinha sido raptado, levado para terras distastes, fui eu que o encontrei moribundo nas ruas da cidade e o trouxe de volta. 
O meu amigo, era chato e a sua gula inervava-me. Mas nos dias mais frios e escuro, bastava-me olhar para ele, para me aquecer o coração. Ás vezes dava por mim, a fixa-lo e a observar o vento a bater ao de leve  no seu doce e macio pêlo. E quando finalmente acordava, sabendo que o estava a observar, não reagia durante alguns instantes, só depois, se levantava com o esforço enorme, como se alma carrega-se todo o peso do mundo, e se aproximava e abanava o rabo em jeito de cumprimento. 

Agarrei-me muitas vezes a ele, na esperança que ele entendesse, o amor que sentia por ele. Confesso, que por vezes com pena dele, dormia com ela na cama, onde ele se aconchegava nos meus pés. Na altura das refeições, era sempre divertido, porque ele seguia-me para todo lado, com a sua pequena língua de fora e com o rabo abanar freneticamente. 

Ainda não chorei por ele. Tenho feito um esforço á frente das pessoas. Mas para onde quer que olhe, me lembro daquele cão, que jamais esquecerei. Morreu atropelado, por algum, bêbado, ou adolescente irresponsável, que o deixou na agonia no meio da estrada sem se poder mexer. Preferia que tivesse morrido logo, sem dor tal como o tempo que passamos juntos, sem dor, ao por do sol, na varanda da casa. 

Sabia que o seu fim se aproximava, e estava a preparar-me para isso. Mas é mais difícil do que pensava. Chegar a casa e ver, que, esta vazia, sem o teu pelo a dançar por todo lado, numa musica lenta e celestial. 
Dizem-me que podia arranjar outro cão! 
Mas também me dizem que este cão era eu, sozinho, rezingão e solitário. 
Mais que um amigo que nunca tive, foste o meu companheiro neste anos frios e escuros, e foste muitas vezes a vela que nao se apagava, e que me iluminava no meio da tempestade. 

Até sempre Snake, meu puto. 

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